1) A cigarra e as formigas
Num belo dia de inverno as formigas estavam tendo o maior trabalho para secar suas reservas de trigo. Depois de uma chuvarada, os grãos tinham ficado completamente molhados. De repente aparece uma cigarra:
“Por favor, formiguinhas, me dêem um pouco de trigo! Estou com uma fome danada, acho que vou morrer.”
As formigas pararam de trabalhar, coisa que era contra os princípios delas, e perguntaram:
“Mas por quê? O que você fez durante o verão? Por acaso não se lembrou de guardar comida para o inverno?”
“Para falar a verdade, não tive tempo”, respondeu a cigarra. “Passei o verão cantando!”
“Bom... Se você passou o verão cantando, que tal passar o inverno dançando”, disseram as formigas, e voltaram para o trabalho dando risada.
Moral: Os preguiçosos colhem o que merecem
("Fábulas de Esopo" - São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2004)
2) A formiga boa
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu: tique, tique, tique...
Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
"Que quer?", perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
"Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu..."
A formiga olhou-a de alto a baixo.
"E que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?"
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.
"Eu cantava, bem sabe..."
"Ah!", exclamou a formiga recordando-se. "Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?"
"Isso mesmo, era eu..."
"Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraia e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre amiga, que aqui, terá cama e mesa durante todo o mau tempo."
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.
(Monteiro Lobato - Fábulas, São Paulo, Editora Brasiliense, 1966)
3) A cigarra e a formiga
Aquele que trabalhaE guarda para o futuroQuando chega o tempo ruimNunca fica no escuro
Durante todo o verãoA cigarra só cantavaNem percebeu que ligeiroO inverno já chegavaE quando abriu os olhosA fome já lhe esperava
E com toda humildadeÀ casa da formiga foi terPediu-lhe com voz sumidaAlguma coisa pra comerPorque a sua situaçãoEstava dura de roer
A formiga então lhe disseCom um arzinho sorridenteSe no verão só cantavasCom sua voz estridenteAgora aproveitas o ritmo
E dance um samba bem quente.
(Cordel: Severino José, São Paulo: Editora Hedra, 2004)
As escolhas linguísticas
O que muda nessas três versões? É o modo de contar a história, a roupagem cultural, a escolha de certas expressões lingüísticas.
Na versão em cordel há um "toque brasileiro". Repare que a formiga diz à cigarra: "E dance um samba bem quente". Essa versão da fábula faz referência à literatura de cordel e a uma tradição de escrever essas histórias em forma de versos, como foi o caso do famoso fabulista francês, La Fontaine.
Na fábula de Esopo, há uma referência ao inverno que, na Europa, alcança temperaturas baixíssimas. Assim, o enredo, ao se referir a essa época do ano, enfatiza a necessidade da cigarra ter um lugar para se proteger. Há referência ainda à colheita do trigo, importante alimento naquelas paragens. Outro aspecto que pode ser ressaltado é a forma em que o narrador escolhe retratar a cigarra: humilde, pedindo ajuda para não morrer: "Por favor, amiguinhas".O uso da expressão de boa educação e o diminutivo são elementos de argumentação usados pela cigarra, na tentativa de ser simpática, para alcançar seu objetivo de ser acolhida.
Na versão de Lobato, o narrador toma o partido da cigarra: "jovem cigarra", "cansadinha", "pobre cigarra", "tique, tique, tique" (recurso de linguagem que indica a fragilidade da cigarra), "sem abrigo em seu galhinho seco", "metida em apuros", "manquitolando", "asa a arrastar", "triste mendiga suja de lama", "a tossir", "toda tremendo". Quem pode resistir a uma criatura assim?
Na versão de Severino José, como a fábula começa pela moral - em muitas versões, ela está ao final do texto-, o enredo tem o papel de confirmar o que já estava prenunciado nos dizeres da moral expressa nos versos iniciais.
*Alfredina Nery é professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua,linguagem e leitura.
Pesquisa feita por Cida Pimentel
Suporte : página eletrônica “UOL”
Cuiabá, 26/04/2009
Os textos acima pesquisados e que também estão no caderno de teoria 3 serviu para reforçar que intuitivamente o leitor reconheça as diferenças e semelhanças nas maneiras pelas quais organiza seus texto de comunicação.
Os professores foram incentivados a aplicar o Avançando na prática da pagina 41.
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